Davor Šuker (Osijek, 1 de janeiro de 1968) é um ex-futebolista croata.
Šuker se celebrizou
como o principal personagem da surpreendente campanha da Croácia na Copa do Mundo de 1998, sendo o artilheiro do mundial.
Com isso, foi eleito pela FIFA como o terceiro melhor jogador do mundo pela FIFA naquele ano, atrás apenas de Zinédine Zidane
(primeiro) e Ronaldo (segundo).
Ele, que por sinal é o maior artilheiro da história da Seleção Croata, seria também eleito,
em 2004, o maior jogador de seu país nos Prêmios do Jubileu da UEFA, na comemoração dos cinquenta anos da entidade. No mesmo
ano, integrou o FIFA 100, a lista de Pelé que reunia os 125 maiores jogadores de futebol ainda vivos, paras as comemorações
do centenário da FIFA.
Atualmente, ele administra escolinhas de futebol em Zagreb e em outras cidades.
Começou a carreira em 1984, no Osijek, de sua cidade natal. Pelo modesto clube, foi artilheiro do campeonato iugoslavo
de 1989, com 18 gols, chamando então a atenção de um clube maior, o Dínamo Zagreb. No clube capital croata, um dos principais
do país, foi vice-campeão em suas duas primeiras temporadas.
Aquelas acabariam sendo suas únicas temporadas no Dínamo:
o campeonato terminou no período em que os croatas declaravam unilateralmente seu desmembramento da Iugoslávia (em 25 de junho
de 1991), o que logo desencadearia a Guerra de Independência da Croácia, com a invasão do território pelo exército iugoslavo,
controlado pelos sérvios. Sobre aquela situação, declararia em 1996: "Uma vez, meus pais ouviram as bombas começarem a explodir
e saíram correndo atrás de um abrigo no subsolo. Foi o tempo de entrar e tudo ir pelos ares. Mesmo assim, não aceitavam sair
do país. Depois de quatro anos de luta, temos um país de verdade, mas, hombre, não há nada que me desgoste mais no mundo do
que a guerra".
Em meio àquele momento turbulento, Šuker foi um dos principais jogadores iugoslavos a deixar o país,
acertando com o futebol espanhol, contratado pelo Sevilla, também por motivos técnicos ("O campeonato croata é bem fraco.
Não havia outro jeito para nós senão deixar a Croácia se quiséssemos continuar jogando futebol", disse). Ele estourou a partir
da terceira temporada (a de 1993/1994), quando foi vice-artilheiro de La Liga, atrás apenas de Romário, ficando ainda em terceiro
na artilharia na edição seguinte (1994/1995). No clube andaluz, foi colega do astro argentino Diego Maradona, o que lhe teria
sido de grande inspiração: "Eu treinei muito e tentei aprender vendo Maradona jogar".
Seus gols no Sevilla atraíram o Real Madrid. A equipe merengue, no decorrer da temporada 1995/1996, emprestou um desejado
reforço seu, o sérvio Dejan Petković (que havia acabado de chegar ao clube), para o time andaluz, a fim de adquirir o
croata em troca. Em sua primeira temporada completa no Real, a de 1996/1997, Šuker foi o maior artilheiro dos blancos
na conquista do campeonato espanhol, após acirrada disputa com o arquirrival Barcelona de Ronaldo, sendo o terceiro goleador
da liga.
A temporada que se seguiu no Santiago Bernabéu já não foi tão boa para Šuker, que não fez tantos gols e passou
à reserva. A campanha regular no espanhol (quarto lugar) foi compensada com o título na Liga dos Campeões da UEFA, quebrando
um jejum de 32 anos do maior vencedor da competição. O croata, todavia, viu a façanha no banco. Acabou entrando na lista de
dispensas da equipe.
Seu grande desempenho na Copa do Mundo de 1998, logo depois, porém, fez o clube mudar de ideia. O
Real inclusive contratou um colega de Šuker na Seleção Croata, Robert Jarni. Ainda assim, o goleador da Copa continuou
fora do time titular, a exemplo da Supercopa Europeia (em que não foi utilizado na derrota para o Chelsea) e do Mundial Interclubes
(em que entrou no lugar de Sávio aos 44 minutos do segundo tempo, com a vitória madridista sobre o Vasco da Gama já assegurada)
daquele ano.
Cansado da reserva no Real, Šuker acertou com o Arsenal, da Inglaterra. Apesar da saída frustrante, foi
nos anos que esteve em Chamartín que ele conseguiu os únicos títulos por clubes na carreira.
Na equipe londrina, não viu situação muito diferente. Pouco jogou pelos Gunners, e não ajudou muito o fato de, ainda
em 1999, Šuker ter investido US$ 32 mil em ações na Bolsa de Valores de Londres - sendo que eram ações justamente do
Manchester United, o grande adversário do Arsenal pelos títulos ingleses ("Não entendo nada sobre o mercado de ações. Mas
futebol, conheço bem", afirmou sobre). No ano seguinte, desperdiçou a sua cobrança na decisão por pênaltis que decidiu a final
da Copa da UEFA de 2000, contra o Galatasaray - ele havia entrado na partida praticamente apenas para a cobrança, uma vez
que Arsène Wenger o colocou em campo nos últimos cinco minutos da prorrogação - e os turcos ficariam com o título.
Sem
ambiente favorável em Highbury, já na temporada seguinte estava em outro clube de Londres, o West Ham United, onde não teria
melhores oportunidades. Após também uma temporada nos Hammers, demonstrou sua decadência ao ir para a inexpressiva equipe
alemã do 1860 München. Depois de duas fracas temporadas no segundo time de Munique, Šuker aposentou-se.
Ainda antes de despontar definitivamente no Osijek, Šuker começou a destacar-se nacionalmente pela Iugoslávia: pela
equipe sub-20, foi um dos grandes nomes no mundial da categoria, no Chile, sendo vice-artilheiro do torneio, vencido pelos
iugoslavos. No ano seguinte, foi o mais jovem integrante do plantel nacional nas Olimpíadas de 1988, em uma época em que não
havia limite de idade para os convocados - o único pré-requisito para um futebolista participar dos Jogos era não ter ido
ainda a uma Copa do Mundo. A Iugoslávia, que ficou no grupo do Brasil, caiu na primeira fase.
Três anos depois do título
de juniores, já como jogador do Dínamo Zagreb, ele foi chamado para a Copa do Mundo de 1990. Nela, Šuker foi apenas reserva,
não chegando a entrar em campo. Sua estreia pela equipe principal viria apenas no ano seguinte, em amistoso contra a Turquia.
O primeiro gol ocorreu em sua segunda partida, contra as Ilhas Faroë, em jogo válido pelas eliminatórias para a Eurocopa 1992.
Curiosamente, antes mesmo de seu debute pela seleção principal da Iugoslávia, ele já havia feito sua primeira partida pela
Croácia: ainda em 1990, jogadores do futuro país (que só declararia independência em 25 de junho de 1991, no que foi reconhecida
em 8 de outubro do mesmo ano) vestiram o uniforme quadriculado em amistoso contra a Romênia.
O jogo contra os feroeses,
realizado apenas nove dias antes da declaração unilateral de independência da Croácia, seria o último de Šuker pela Seleção
Iugoslava. Por causa de tal fator político, os atletas croatas naturalmente deixaram de ser chamados pela Iugoslávia. Mesmo
com o país conseguindo, sem eles, classificar-se para a Euro (todavia, a sua guerra civil faria com que fosse banido pela
FIFA e impedido de disputar o torneio), a nata da poderosa equipe iugoslava estava na Croácia, como Robert Jarni, Robert Prosinečki,
Zvonimir Boban e Igor Štimac (também membros do chamado "grupo do Chile", os croatas que venceram o mundial de juniores
em 1987; os dois primeiros também estiveram no mundial da Itália), Alen Bokšić (outro reserva da Copa de 1990),
Mario Stanić, Goran Vlaović, Dražen Ladić, Aljoša Asanović e Slaven Bilić. Em seu primeiro
jogo pela nação reconhecidamente independente, em amistoso contra o México em Zagreb, em 22 de outubro de 1992, Šuker
marcou logo duas vezes.
Como as seleções dissidentes da antiga Iugoslávia não puderam participar das eliminatórias para
a Copa do Mundo de 1994, boa parte da Europa só foi conhecer o talento da jovem Seleção Croata na primeira competição que
esta pôde disputar, a Eurocopa 1996. Nas eliminatórias, a Croácia terminou líder de seu grupo, à frente da Itália, então vice-campeã
do mundo. Na Euro, Šuker marcou três vezes, ficando na vice-artilharia, e sua seleção conseguiu chegar às quartas-de-final,
caindo diante da futura campeã Alemanha.
Ainda assim, o futebol croata ainda era relativamente desconhecido na maior parte do mundo até a Copa do Mundo de 1998.
A equipe por pouco não ficou de fora - classificou-se à repescagem após vencer antigos colegas da Eslovênia fora de casa (com
um gol de Šuker, que também jogou contra os bósnios) e ver os maiores concorrentes à segunda vaga, os gregos, empatarem
em Atenas com a líder Dinamarca e ficarem um ponto atrás. A vaga na Copa foi assegurada após uma vitória e um empate na repescagem
contra a Ucrânia do jovem Andriy Shevchenko.
Na Copa, Šuker, que já tinha feito 34 gols em 40 partidas pela Croácia,
foi quem mais chutou a gol e só não marcou na partida contra a Argentina, na derrota de 1 a 0, na primeira fase, quando ambas
as seleções já estavam classificadas. Ele já havia garantido a vaga croata nas oitavas-de-final ao marcar o gol da vitória
contra o Japão - a Croácia já havia vencido na estreia, por 3 a 1, contra a Jamaica, em que ele fez o terceiro gol dos croatas.
Nas oitavas, ele outra vez fez o único gol da partida, contra a Romênia de Gheorghe Hagi.
Outra vez croatas e alemães,
a exemplo da Eurocopa 1996, se enfrentariam em uma das quartas-de-final. Desta vez, os eslavos levaram a melhor, e de forma
categórica: com a sua jogada característica, - dominando a bola com um pé, passando por um adversário e chutando com o outro
pé para as redes -, Šuker marcou o terceiro gol na vitória por 3 a 0 dos estreantes em Copas. Nas semifinais, a Croácia
enfrentou a França, e ele ameaçou estragar o sonho dos anfitriões, ao inaugurar o placar no início do segundo tempo. Ele chegou
inclusive a tentar um gol olímpico na partida. Porém, logo em seguida ao seu gol, os franceses empataram com Lilian Thuram,
que marcaria também o gol da virada e da vitória francesa.
À Šuker, restaria dois consolos que lhe transformaram em
herói nacional: o terceiro lugar, que coroou uma campanha histórica da Croácia, e a artilharia do mundial, que ele conseguiu
justamente na partida pelo terceioro lugar, ao marcar o gol da vitória. O seu sexto gol no torneio - o mesmo número de tentos
que ele marcara onze anos antes, no vitorioso mundial de juniores da antiga Iugoslávia - o isolou entre os goleadores da Copa,
ultrapassando os cinco de Gabriel Batistuta e Christian Vieri. Por causa de seu desempenho, Šuker ficaria em terceiro
também no prêmio de melhor jogador do mundo pela FIFA em 1998, atrás apenas dos maiores protagonistas daquele mundial, o francês
Zinédine Zidane e o brasileiro Ronaldo; já havia sido considerado o oitavo em 1996 e o sétimo em 1997.
Após a Copa, porém, a seleção viveu um desagradável susto: ficou de fora da Eurocopa 2000, após ficar em terceiro no
grupo, um ponto atrás da Irlanda. Para piorar, a vaga foi perdida na última rodada, em casa, em um confronto direto contra
os rivais da Iugoslávia, que tinham a vantagem do empate e terminaram na liderança após a partida terminar em 2 a 2. Nas eliminatórias
para a Copa do Mundo de 2002, os croatas demonstraram recuperação, fazendo uma campanha tranquila na liderança de seu grupo.
Porém,
Šuker já demonstrava também na Croácia a decadência que vivia nos clubes que passava. O maior trunfo dos croatas na campanha
não fora o ataque, e sim a defesa. Ele, por sinal, marcou apenas uma vez nas eliminatórias, e contra a fraca Seleção de San
Marino. No mundial da Ásia, outra vez não demonstrou sua melhor forma e jogou só uma vez, na estreia contra o México. Fez
uma atuação apática e foi substituído pouco após o gol adversário, o único da partida, no que seria o encerramento do ciclo
de Šuker na seleção - ele não seria usado nas duas partidas seguintes da primeira fase.
Os croatas como um tudo, com
um time titular repleto de veteranos - incluindo os mesmos Prosinečki, Jarni e Bokšić com quem ele fora à Copa
do Mundo de 1990 -, também decepcionaram e cairiam ainda na fase de grupos, quando uma simples vitória contra o já desclassificado
Equador lhes dariam vaga nas oitavas-de-final (os sul-americanos venceram por 1 a 0).